"Educar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais...Entendo assim a tarefa primeira do educador: Dar aos alunos a razão para viver”.
RUBEM ALVES

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Juventude conectada desafia modelo tradicional de ensino

Especialistas em educação fazem um alerta: a escola precisa mudar para acompanhar o ritmo da chamada geração Y
Se um estudante do século 19 voltasse às aulas hoje, como boa parte dos alunos gaúchos, provavelmente se espantaria com o comportamento dos colegas e com a parafernália eletrônica que carregam nas mochilas, mas reconheceria de longe a sala de aula: o quadro negro, as fileiras de classes e a figura do professor à frente da turma lhe pareceriam muito familiares. Enquanto a geração do século 21 nasce plugada e desafia os modelos tradicionais de educação com inéditas formas de pensar e de aprender, a escola que se propõe a ensiná-los pouco se modernizou nesses dois séculos.
Diante do choque inevitável entre alunos digitais e um modelo de ensino analógico, especialistas alertam para um momento de ruptura: se quiserem continuar cumprindo seu papel, as instituições de ensino precisam se reformular. E para isso não adianta apenas investir em laboratórios de informática. É necessário repensar desde a maneira de se relacionar com os alunos até a geografia da sala de aula. Em vez de taxar os alunos de inquietos ou desinteressados, é preciso investigar o porquê dessa aparente apatia.
– Isso que a gente chama de indisciplina, desinteresse, apatia deve ser um motivo para mexer na qualidade da aula. Essa geração fuça, mexe, pluga, implode a escola que tem o modelo de aula dos séculos 18, 19 – adverte o professor e pesquisador Adriano Nogueira, que trabalhou com Paulo Freire e assina com ele diversos livros sobre educação, entre eles Que Fazer? – Teoria e Prática em Educação Popular.
Chamados de geração Y por sociólogos, os nascidos depois de 1980 são identificados por uma inquietação permanente, alimentada pela crescente velocidade das redes a que estão conectados. As mudanças são tão aceleradas que já há quem identifique uma geração Z. Segundo o pedagogo e conferencista Hamílton Werneck, autor de livros como Se Você Finge que Ensina, Eu Finjo que Aprendo, ela seria formada pelos nascidos depois de 1994.
– A Z é uma espécie de geração Y mais turbinada, está muito mais conectada no cyberespaço, e a escola está ficando para trás. O problema é que esses alunos também sofrem os efeitos da dispersão. Eles começam pesquisando sobre o Delta do Rio Parnaíba na internet, entram num link sobre o delta do Nilo, daqui a pouco já estão lendo sobre a última pesquisa do DNA de Tucancamon e não fizeram a pesquisa original. A escola tem um papel importante nessa mediação, ajudando a discernir informação – diz Werneck.
Para Paulo Al-Assal, diretor-geral da Voltage, agência de pesquisa especializada em tendências, com sede em São Paulo, um dos problemas da escola atual é que ela mata a criatividade, ao padronizar alunos em seu modelo fabril. E a criatividade é justamente a principal exigência do futuro.
– Minha filha de oito anos assiste Discovery, Geographic Channel, acessa multiplataformas. Aí vem a professora no primeiro dia de aula e diz: “a pata nada”. Em seu formato atual, a escola mata a criatividade – critica Al-Assal.
A estudante Daniela Guerra Cotta, 11 anos, ouve em seu iPod as músicas que baixa da internet, conversa no MSN com as amigas enquanto se diverte com o jogo virtual Club Penguin. Orgulhosa, mostra o livro que escreveu e postou no site Bookess. Com o título O Livro Premiado, é uma história com “concursos, romances, paixões secretas, bailes, emoções e música”, como define a sinopse escrita por ela. Explica ainda como cria histórias em quadrinhos na internet. Tudo em um clique, tudo ao mesmo tempo. Ela garante que gosta da escola, está com saudades de reencontrar pessoalmente as amigas no Colégio Rosário, em Porto Alegre. Mas preferia que as aulas fossem no computador.
– Seria mais legal, né? – diz ela, que também ensinou a mãe a criar um twitter e produzir vídeos no programa Movie Maker.
A mãe, a professora Cleonice Guerra, corre atrás para aprender com a filha – e transmitir o aprendizado a seus alunos:
– As crianças já nascem conectadas. Nós somos migrantes, eles são nativos. Se a gente não estiver atualizado, eles passam por cima.
Conheça a Geração Y
Pontos positivos
- Inteligência: eles aprendem tudo ao mesmo tempo
- Bom relacionamento: tendem a se relacionar bem e tolerar as diferenças
- Agilidade: são rápidos para resolver o que gostam
- Fidelidade aos seus ideais: eles defendem seus projetos
Riscos
- Exílio: os alunos correm o risco de ficar alienados e exilados em seu mundo no computador. Um dos papéis da escola é ajudá-los a se socializar
- Superficialidade: a velocidade é tão grande que eles refletem pouco sobre as informações. O professor deve ajudá-los
- Inquietação permanente: essa geração está sempre em busca de novos estímulos e pode deixar tarefas incompletas
- Dispersão: em meio a tantos links e possibilidades, os alunos podem se perder
Por onde começar
Professores:- Seja um mediador: ajude seus alunos a selecionar as informações. Oriente, organize o conhecimento
- Atualize-se: não seja analfabeto digital. Aprenda com seus alunos, navegue na rede e aproveite o entusiasmo deles para produzir materiais didáticos em conjunto
- Tente entender como o jovem pensa: às vezes, ele contesta por não entender o porquê daquela tarefa
Pais:- Participe: acompanhe o que seu filho pesquisa na internet e procure orientá-lo
- Estabeleça horários: delimite o tempo para as lições de casa e para brincar. Lembre-se de que o seu filho precisa dormir bem para poder reter na memória o que aprendeu
- Oriente: ajude nas lições de casa, mas nunca faça por eles

Este artigo foi divulgado no http://www.cmconsultoria.com.br/vercmnews.php?codigo=43149
Fonte: Zero Hora Online

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